sábado, 4 de outubro de 2008

Ensinando a gostar de ler


Por uma nova metodologia da leitura

Raquel Villardi

Esse artigo foi retirado da obra da autora«Aprendendo a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira»Rio de Janeiro, Dunya, 1997.


1- Princípios Norteadores
Partimos da pressuposição de que a leitura do texto literário, sob a perspectiva da descoberta do prazer, é um processo, e que, portanto, não se chega lá em alguns minutos. É necessário dar tempo ao tempo, possibilitar que as descobertas se vão fazendo na medida em que a leitura se aprofunde, numa aproximação paulatina que constitui, verdadeiramente, a construção do texto pelo leitor. Para que se consiga isto, defendemos a idéia de que cada livro deva ser trabalhado sob a forma de um projeto, onde, por intermédio das várias atividades, esses objetivos possam ser alcançados, paulatinamente.
METODOLOGIA TRADICIONAL
NOVA METODOLOGIA
CERTO
POSSÍVEL
ÓBVIO
DESCOBERTA
ÁRIDO
LÚDICO




Acima esquematizamos as diferenças entre a nossa proposta e a metodologia tradicionalmente utilizada na escola, em relação à leitura, expressando os três princípios sobre os quais a primeira se fundamenta:
1. Ao invés de exigir do aluno que chegue a respostas corretas, o material didático oferecido ao aluno deve possibilitar que ele chegue a respostas possíveis, sempre, é claro, compatíveis com o que o texto diz. A perspectiva é que o aluno seja capaz de construir a sua leitura, e não apenas de corroborar uma leitura do professor, porque a leitura do aluno é a manisfestação da sua leitura de mundo, da sua leitura de vida, necessariamente diferente de um para outro. Portanto, a tarefa do professor deve ser levar o aluno a fornecer respostas pertinentes, e não qualquer resposta aleatória, mas não, necessariamente, respostas convergentes.
2. A perspectiva estruturante do trabalho -- que na metodologia tradicional é a cópia do que se expõe na superficialidade do texto -- deve ser a descoberta das várias verdades ali subjacentes. Por este princípio, não cabe ao professor mostrar o que está no texto, mas dar ao aluno os elementos necessários à construção de uma leitura tão profunda quanto permitir sua capacidade de análise e sua visão de mundo. Assim, não devem ser propostas atividades que dependam da pura observação, nem que demandem respostas mecânicas. A proposição do professor deve procurar investir sempre naquilo que não está óbvio.
3. Como a leitura é uma atividade profundamente árida e estratificada na sala de aula, e como o aluno habituou-se a vê-la dessa forma, é necessário que os projetos demonstrem, de modo concreto, que o aluno encontra-se diante de uma nova perspectiva de leitura, e que tudo será realizado de modo a que ele possa ter prazer naquilo que faz. Por este motivo, as atividades propostas no âmbito do projeto devem ter uma preocupação com o lúdico, diferenciando-se daquilo que, de modo geral, se faz na escola. É absolutamente imprescindível que o aluno visualize que está diante de algo especial.
Por este motivo, deve-se procurar evitar o padrão pergunta / resposta do questionário, oferecendo jogos e brincadeiras por meio dos quais o aluno contrua uma leitura própria, em colaboração com o restante da turma. A apresentação do trabalho sob uma perspectiva lúdica, no entanto, é fator necessário, mas não suficiente, para que as atividades ganhem um fôlego novo. É preciso não esquecer que de nada adianta escapar da formatação tradicional, se continuarmos a elaborar perguntas e a "cobrar" respostas tradicionais.

2- Estrutura
A maneira como as atividades se articulam dentro de cada projeto deve permitir que se atinja o objetivo proposto. Para tanto, os projetos devem estar estruturados em três etapas: "atividades preliminares", "atividades com o texto" e "atividades complementares", cada uma delas com objetivos específicos definidos, de modo a levar o aluno a uma leitura global e múltipla, descobrindo o prazer de ler.
O quadro que se segue mostra, de modo esquemático, cada uma das etapas da estrutura dos projetos, com seus respectivos objetivos.

ETAPAS
OBJETIVOS

1 Atividades preliminares
Incentivar, pela curiosidade
Fornecer inromações
Demonstrar o caráter lúdico do trabalho
2 Atividades com o texto (Roteiro de Leitura)
Oferecer oportunidades para que o aluno modele sua própria leitura
Trabalhar a compreensão em níveis tão profundos quanto possível:
Utilização do método indutivo
Exploração intensiva e extensiva do texto
Abordagem analítico-sintética
3 Atividades complementares
Favorecer relações interdisciplinares
Trazer a problemática do texto para a realidade do aluno
Desenvolver a criatividade
ΠAs atividades preliminares
São aquelas que devem preparar o aluno para a leitura. Ao longo do tempo, a leitura se transformou em algo tão massacrante para o aluno, que qualquer modificação nesse quadro deverá ser obra de sedução. Assim, defendemos, com veemência, a idéia de que a leitura não pode se abater sobre o aluno, sem que ele esteja suficientemente predisposto e preparado para realizá-la, visualizando-a como algo que realmente possa acrescentar-lhe experiências e dar-lhe prazer.
Depreende-se daí a necessidade de que sejam realizadas atividades antes mesmo que o livro chegue às mãos do aluno, e tais atividades devem atender, basicamente, a três objetivos:
Incentivar, pela curiosidade
Isto significa que o professor deve proceder de modo a despertar no aluno o desejo de ler aquele livro. Para isso, podem ser utilizados recursos semelhantes aos da propaganda (como cartazes, com algumas indicações acerca dos personagens ou do enredo, nos moldes dos anúncios de filmes ou de novelas de TV, por exemplo), discussões sobre o tema, notícias de jornais, de modo a criar polêmicas e mobilizar a turma, gerando no aluno uma curiosidade tal que o leve a dizer para si mesmo: "Eu quero ler este livro".

Fornecer informações

Muitas vezes, para que a compreensão de um texto ocorra de modo globalizado, é necessário que o aluno disponha de informações maiores, de caráter científico ou histórico, ou ainda sobre outros textos; enfim, informações que podem não fazer parte de seus conhecimentos e que, por isso, impediriam o leitor de enxergar, com maior riqueza e acuidade, aquilo que o texto diz.
Essa necessidade se verifica em inúmeros textos, e aqui nos remetemos, a título de exemplificação, ao Davi ataca outra vez, de Ruth Rocha, narrativa que traz para os nossos dias a história bíblica do confronto do jovem Davi com o gigante Golias. Se o aluno desconhece a narrativa original, fará toda a leitura do livro e será capaz de compreendê-lo sem problemas, mas a ele escapará a idéia de que, desde que o mundo é mundo, pessoas corajosas se dispuseram a enfrentar seres muito mais poderosos que elas e conseguiram obter sucesso. Esse sentido reforça a idéia de que não temos que nos curvar diante das injustiças, ampliando o significado original do texto, conferindo-lhe um caráter de universalidade que escapa a quem não pode -- porque não dispõe dos elementos necessários -- fazer as associações que o texto suscita.
A grande questão é que esse tipo de informação é fornecida, na metodologia tradicional, depois da leitura, momento em que o professor pára e mostra ao aluno o que ele não viu. Neste momento, desaparece todo o prazer que o aluno teria ao descobrir, ele mesmo, essas ligações; e sua leitura continuará sendo sempre inferior à do professor.

Demonstrar o caráter lúdico do trabalho

A prática pedagógica que envolve a leitura, como já demonstramos, afasta o aluno dos livros -- o que não significa que o aluno se afaste deles por si só, nem que tenha uma "prevenção" natural contra eles: é aquilo que se cobra do aluno a respeito da leitura que o afasta dos livros.
Portanto, para que se reverta esse quadro, é imprescindível que se possa criar uma atitude positiva do aluno frente ao trabalho que a ele será apresentado. Sendo assim, as atividades que antecedem o trabalho com o texto propriamente dito devem ser o mais lúdicas possível. Atividades que envolvam toda a turma, jogos, música, brincadeiras, atividades livres, passeios e visitas costumam causar um bom impacto.
Estes momentos precisam revelar ao aluno um compromisso com aquela verdade que a escola, aparentemente, teima em esquecer; a verdade suprema de que criança gosta, mesmo, é de brincar. E que a leitura pode se transformar numa linda, numa deliciosa brincadeira.

 As atividades com o texto: a elaboração do roteiro de leitura
De toda a metodologia desenvolvida, esta etapa, sem dúvida, é a mais dificilmente internalizada pelo professor. A análise empreendida no capítulo 2 nos permite afirmar que o professor trabalha a partir do texto, e não o texto. O professor -- mais marcadamente ainda o do primeiro segmento do ensino fundamental -- se esforça: encontra uma música sobre o mesmo tema, dramatiza a história, aproveita o conteúdo da leitura para dar suporte ao trabalho de Estudos Sociais ou de Ciências, monta um mural com desenhos das partes mais interessantes da história, em suma, enriquece o trabalho.
Mas volto, ainda, à mesma pergunta: "Isso é trabalhar o texto?" Toda essa prática é semelhante à tentativa de se dar uma aula de música levando os alunos para assistirem a uma exposição de fotos sobre um baile. Porque a matéria de que a música é feita são os sons, da mesma forma que a matéria de que é feita a Literatura é a linguagem. Não há como empreender um trabalho com música que abdique da presença dos sons, ainda que as fotos mostrem seus efeitos; como não há como empreender um trabalho de literatura que abdique da linguagem, ainda que assentado sobre seus efeitos.
Assim, trabalhar o texto não é buscar o significado daquilo que se diz, mas buscar os significados que surgem da maneira como se diz aquilo, já que pressupõe que o foco se dirija à matéria de que é feito o texto, ou seja, à linguagem nele utilizada. Quando um grupo de crianças, por exemplo, dramatiza uma história após sua leitura, reduplica-se aquele sentido primeiro, mais superficial, do texto; a preocupação se dirige exclusivamente ao enredo, ou seja, à história em si, e não à maneira como a história é contada. Todas as outras leituras possíveis, toda a riqueza que se pode encontrar por detrás do texto, tudo isso permanece obscuro, não vem à cena, não pode ser transformado em palavra ou gesto. As atividades com o texto devem, portanto, basear-se no texto enquanto tal; por isso não podem restringir-se a comentários orais, nem à reconstituição do enredo, independentemente da maneira como esta reconstituição seja feita.
As atividades com o texto devem ser organizadas num Roteiro de Leitura -- que em nada se aproxima dos questionários de interpretação ou das tradicionais fichas de leitura -- capaz de levar o aluno a compreender o texto em toda a sua extensão, a refletir sobre cada elemento que compõe sua estrutura, a perceber a importância dos pormenores, até, finalmente, posicionar-se criticamente frente ao que foi lido.

Tudo isto pode ser sintetizado nos dois objetivos que fundamentam a elaboração do

Roteiro de Leitura:

Oferecer oportunidades para que o aluno modele sua própria leitura
Modelar a leitura de um texto é um processo complexo, que compreende algumas fases: inicialmente, é necessário compreender o texto, em toda a sua extensão e o mais profundamente possível; a seguir, devem ser levantadas as diferentes hipóteses de significação, até que, finalmente o leitor elege uma delas, capaz de satisfazê-lo plenamente. Muitas vezes, estas fases são concomitantes, ou seja, à proporção que a leitura mais profunda vai acontecendo, o leitor vai levantando hipóteses e descartando-as, fixando-se, ao final, em uma (ou, às vezes, em mais de uma). Quando se chega a isso, procedeu-se a uma leitura "definitiva", ao menos até aquele momento.
Só é possível ao aluno modelar sua própria leitura a partir do momento em que o texto pode ser visto por ele em toda a sua dimensão. Em relação a este aspecto da obra, "modelar a própria leitura" significa optar por uma ou várias dessas possibilidades, ou, simplesmente, optar por não optar, se vier a concluir que isto em nada afeta o sentido maior da narrativa.
Mas para chegar a esse ponto, é necessário que o aluno disponha de um material concreto, escrito, sobre o qual possa refletir e a partir do qual se criem oportunidades para a observação atenta e minuciosa das inúmeras possibilidades de leitura disponíveis no âmbito do próprio texto.
Trabalhar a compreensão em níveis tão profundos quanto possível
Este objetivo é decorrência natural do anterior, pois que a compreensão em profundidade, ponto inicial do processo descrito no item anterior, pressupõe o levantamento de uma infinidade de hipóteses. Desta forma, propomos que, para atingi-lo, o roteiro de leitura elaborado pelo professor esteja assentado nos seguintes pontos:
Utilização do método indutivo
O material deve levar o aluno a perceber as diferentes hipóteses de significação, sem, contudo, oferecer-lhe respostas prontas. Portanto, sua função deve ser conduzir a observação do aluno para aqueles pontos que, na nossa percepção, poderiam deixar de ser notados por ele.
Isto determinará que, muitas vezes, as atividades elaboradas poderão se tornar um pouco mais longas, em função da necessidade de subdividir cada atividade em partes, por meio das quais o aluno seja capaz de ir articulando os diferentes elementos, chegando a conclusões parciais, até que, por fim, se possa chegar a uma conclusão maior, que sintetize todo aquele percurso, conforme preconizamos no próximo item.
exploração intensiva e extensiva do texto
A compreensão efetiva do texto se faz por meio da compreensão de suas diferentes partes e das relações existentes entre elas. Assim, propomos que todo o texto seja mapeado em profundidade, de modo a levar o aluno a refletir sobre as diferentes hipóteses de leitura. Para essa análise, entretanto, não interessam apenas as "idéias principais" do texto; ao contrário, interessam os pormenores, aquelas passagens, aquelas expressões que nos causam certo mal-estar, porque não depreendemos exatamente o que estão fazendo ali. É nelas que estará a chave que nos permitirá desvendar os diferentes significados do texto. E sobre eles deve recair a atenção do professor na elaboração do roteiro de leitura. Enquanto houver uma só passagem ainda obscura, haverá, certamente, uma hipótese de significação ainda não considerada.
No estudo do texto, não se deve desprezar qualquer elemento, pois que tudo nele tem uma função; e que só a leitura atenta e intensa, que ultrapasse a facilidade do enredo, é capaz de nos remeter às diferentes possibilidades de significação.
Assim, na leitura de um texto, não é preciso que toda a turma conclua a mesma coisa. O que se espera é que o Professor se proponha a ouvir e respeitar a leitura de seus alunos, tendo o cuidado, apenas, de demonstrar as leituras que não apresentam respaldo no texto.
abordagem analítico-sintética
A exploração a que nos referimos no item anterior, para que ocorra de forma eficaz, deve se dar a partir da análise do texto, passo a passo, obedecendo-se não à ordenação dos acontecimentos, mas à sua apresentação no texto. Sempre que necessário, é desejável que a estrutura do texto também seja alvo dessa análise. Mas o conhecimento das partes não encerra, por si só, o conhecimento do todo. Portanto, após a análise, é necessário que o roteiro de leitura seja capaz de "amarrar" essas partes, levando o aluno a elaborar um sentido geral para o texto. O trabalho de síntese, que deve fechar o material, não pode, no entanto, "fechar" as possibilidades de significação do texto. É fundamental, por isso, que todo o material seja elaborado com o cuidado de deixar em aberto espaços capazes de acolher as leituras divergentes. Por mais experiente que seja o professor, não é possível prever todas as hipóteses, e é bom que o aluno perceba que há um espaço reservado à sua leitura, caso seja diferentes da nossa.
Para a elaboração de um roteiro de leitura seguro, algumas observações específicas podem, ainda, ser úteis:


A apresentação do material. Tudo o que estiver ligado ao projeto de leitura precisa ser, como o livro, agradável aos olhos e à mente. Assim, o material que chegar às mãos do aluno deve ser muito bem cuidado, de modo a fazê-lo ver que se trata de algo especial, feito especialmente para ele, porque ele é especial.

O caráter lúdico. Todos nós sabemos que não é possível brincar o tempo inteiro, muito menos quando se quer desenvolver algo sério. Portanto, há momentos, dentro do roteiro de leitura, em que a maneira como as questões serão apresentadas certamente não poderão fugir ao que se pretende, e nesses momentos o aluno terá, também, questões apresentadas de uma forma mais tradicional. Mas, sempre que possível, deve-se optar por formas alternativas de elaborar as questões, utilizando, para isso, de recursos típicos de atividades "recreativas" (como jogos de todas as espécies, palavras-cruzadas, caça-palavras, recorte-colagem, entre outros já existentes ou criados pelo próprio professor). O imprescindível é que o material elaborado não tenha cara de questionário, e, se houver necessidade imperiosa de lançar mão de formas tradicionais de apresentação de questões, que estas venham intercaladas com atividades mais lúdicas, de forma a não descaracterizar este fundamento do trabalho. Claro está que quanto mais alta a faixa etária a que se destina o material, menos lúdico ele tende a ser, em termos de forma, o que precisa ser compensado com a natureza da atividade em si. O primordial é que o aluno tenha prazer em realizar a atividade.
ƒ
A dinâmica da aplicação do roteiro de leitura.
Por tudo o que já se disse, é razoável que o Roteiro de Leitura seja relativamente extenso e, portanto, não deve ser aplicado de uma só vez. Ao contrário, é imprescindível que, durante algum tempo, o professor reserve um espaço em seu planejamento para o desenvolvimento paulatino e gradual dessa etapa do projeto. Por outro lado, como a natureza do material exige também envolvimento / posicionamento do leitor, é desejável que o roteiro possa ser discutido entre os alunos, de modo a evidenciar a inexistência de respostas corretas. Nesse sentido, sugerimos a adoção da seguinte dinâmica:
O roteiro de leitura deve ser discutido em duplas, para que as opiniões, trazidas à cena, propiciem a apreciação de semelhanças e divergências entre elas.
Apesar disso, cada aluno deve ter o seu material, utilizando-o individualmente, até para possibilitar o registro de respostas divergentes e a execução de tarefas de criação.
Depois de "pronto", o roteiro deve ser retrabalhado pelo professor com toda a turma, de modo a permitir que transpareça a riqueza das respostas.
Cabe ao professor, portanto, criar um ambiente favorável à divergência, acentuando, desde o início do trabalho, que não se buscam respostas corretas, mas respostas possíveis, sendo salutar e rica a diferença de opiniões. No momento em que as primeiras conclusões forem trazidas à turma, é essencial que o professor demonstre, claramente, que só o respeito à divergência pode vir a enriquecer a visão de cada um acerca do texto.

As questões de múltipla escolha. Podem ser utilizadas, desde que abertas, ou seja, além de várias respostas possíveis, dentre elas deve haver uma que o próprio aluno possa preencher, caso não se sinta satisfeito com a utilização das outras, oferecidas pelo professor. A múltipla escolha deve ser usada para respostas que não estejam evidentes no texto.
A título de exemplo:
Já era tarde quando Marcelo saiu da escola e, embora soubesse que estava atrasado, não resistiu à cena daquele cachorrinho parado ali, na calçada, com a pata machucada e os olhos de quem precisa de carinho. Durante alguns instantes, Marcelo permaneceu estático, olhando só. Logo logo virou-se, para seguir seu caminho, mas não foi capaz. Sem pensar no que sua mãe iria dizer, abaixou-se e, com todo o cuidado, pôs o pequeno animal no colo, a mochila nas costas e seguiu, eufórico, para casa.
Questionários de "interpretação" tradicionais perguntariam:


"Quem o menino levou para casa?" ou "O que o menino fez com cachorrinho que encontrou?"

Quaisquer que fossem as opções oferecidas, as respostas só poderiam ser, respectivamente, "o cachorrinho (machucado)" e "levou-o para casa".

Este tipo de questão nada acrescenta à leitura, além da simples decodificação.
A fim de levar à reflexão, a pergunta elaborada poderia ser, por exemplo, assim: "Levando o cachorrinho para casa, o menino demonstrou ..."
[ ] Compreensão
[ ] Desejo de possuir um cachorrinho
[ ] Sensibilidade
[ ] Irresponsabilidade
[ ] Caridade
[ ] Amizade pelos animais
[ ] Indiferença
[ ] ____________________



As respostas mais prováveis seriam "caridade", "amizade pelos animais", "sensibilidade" ou "desejo de possuir um cachorrinho". Isso não significa que o aluno não pudesse privilegiar a "compreensão", apontando-a como a melhor resposta, na medida em que o menino efetivamente "compreendeu", por seu olhar, que o animal precisava de ajuda, ou a "sensibilidade", já que o menino se mostrou sensível ao sofrimento do cãozinho.
Seria o caso, no entanto, de admitir que as respostas "irresponsabilidade" ou "indiferença" seriam, com segurança, inadequadas? Se consideramos que Marcelo tomou tal atitude sem consultar os adultos com quem vive, podemos vislumbrar na sua atitude "indiferença", ao menos em relação à opinião de sua mãe. Por outro lado, também não deixa de haver certa irresponsabilidade em seu ato, na medida em que apanhar um animal desconhecido na rua envolve graves riscos de contrair doenças.
Portanto, se, em função da experiência de vida do aluno, estas outras hipóteses fossem valorizadas pelo leitor, seria naturalíssimo que estas duas opções lhe parecessem mais adequadas, ao invés da "amizade pelos animais", por hipótese. Mas todas essas opções poderiam ainda não ser satisfatórias para um outro aluno, que sempre tivesse sonhado em ser veterinário, e que, em função disso, viesse a responder:
"prazer em cuidar de animais", hipótese capaz de compatibilizar a realidade do texto com sua realidade de vida.
O importante é a múltipla escolha permitir que valores pessoais sejam expressos nas diferentes hipóteses de escolha, enquanto base para a modelagem de uma leitura própria, desde que não firam o que se diz no texto. Por esse princípio, seria inadequada, nesse caso, por exemplo, a resposta "não ligar para os animais", pois o que o texto diz contraria essa idéia, embora abra espaços para inúmeras outras.
Assim, neste tipo de questão, o professor deve oferecer um espaço para o posicionamento particular do aluno e estar preparado para aceitar os argumentos que embasam as diferentes respostas, ainda que não correspondam à sua própria leitura do texto.

Projeto Criando e Recriando


Escola Municipal 04.30.005- Tenente General Napion
Sala de Leitura
Profª Nádia Rabelo

Projeto: Criando e Recriando

Introdução
“A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação.
Aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve, também, conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produções artísticas individuais e coletivas de distintas culturas e épocas.”
PCN- Artes

Justificativa
O senso de estética e criatividade são habilidades que se aprende. Quando o aluno produz ou aprecia obras de arte, desenvolve sua percepção e imaginação, dois recursos indispensáveis para compreender outras áreas do conhecimento humano.

Unindo a literatura à arte, o aluno poderá participar interativamente com várias produções artísticas, ler as imagens, respondendo criativamente ao que vê.

Por isso, acreditamos que oportunizando aos nossos alunos o primeiro contato com artistas plásticos, principalmente Portinari e um pouco de suas obras estaremos desenvolvendo sua sensibilidade, percepção, experimentação e criação , tão importantes para que ele entenda e usufrua o mundo que nos cerca.
Objetivos
* Apreciar, examinar e avaliar algumas produções visuais (originais e reproduzidas)
* Desenvolver o olhar crítico
* Desenvolver produção individual e grupal
* Identificar-se como produtor de arte.
* Reconhecer a importância das artes na sociedade e na vida dos indivíduos.
* Identificar significados expressivos e comunicativos das formas visuais.
* Identificar alguns produtores em artes visuais como agentes sociais de diferentes épocas: aspectos das vidas e alguns produtos artísticos
* Construir uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal, respeitando a própria produção e a dos colegas.
* Despertar o prazer e empenho na apreciação e na construção de formas artísticas.
* Desenvolver o interesse e respeito pela produção dos colegas e de outras pessoas.




* Desenvolver autonomia na manifestação pessoal para fazer e apreciar arte.
* Compreender e saber identificar a arte como fato histórico contextualizando-a nas diversas culturas.
* Participar de forma interativa com produções plásticas de alguns artistas.
* Desenvolver a leitura das imagens.

Metas
-Criar oportunidades em que o aluno entre em contato com alguns artistas plásticos (em especial com CÂNDIDO PORTINARI),e também com suas obras.

- Oportunizar momentos de apreciação da arte.

- Criar oportunidades em que o aluno possa “recriar” obras consagradas, usando técnicas variadas e diversas linguagens.

- Apresentar a arte como meio do artista expressar o que sente diante da realidade (suas angústias e críticas).

- Possibilitar momentos de apreciação de algumas obras, fazendo o aluno perceber que o artista coloca algo de si para fora, exteriorizando uma idéia e que o público coloca-a para dentro de si interiorizando.

- Organizar exposição com as produções dos alunos.

- Buscar e organizar informações sobre a arte em documentos e acervos, reconhecendo e compreendendo a variedade de produtos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias.


Desenvolvimento
A)

* Contação:PINTOR DE LEMBRANÇA
José Antonio Del Cañizo
Tradução de Charles Kiefer
Projeto

* Exploração oral da obra, destacando o trabalho do pintor (tipos de pinturas: de retrato, de paisagem, de natureza-morta, de salão, abstrata... pintor de lembranças(Gabriel)...

* Solicitar que o aluno desenhe e pinte “SUA MELHOR LEMBRANÇA”

* Exposição dos desenhos (alguns alunos poderão falar sobre “sua melhor lembrança”).



B)


* Recordando a história: Pintor de Lembranças

* Tipos de pinturas

* Utilizar algumas obras de Portinari e solicitar que os alunos identifiquem o tipo de pintura.

* Falar sobre a importância de Portinari (pintor, desenhista e poeta brasileiro)



C)

* Conhecendo um pouco da vida e obras de Portinari
    Poeta Portinari
    O Desenhista Portinari
    O pintor Portinari


D)


* Atividade: Tema: Paisagem - Obra: Floresta

* Pedir para os alunos nomearem todos os animais que aparecem na paisagem. Observar com eles as diferentes cores e o tratamento que o artista dá para diferenciar os animais que têm pelos, dos que têm penas.

* Observar com os alunos as cores que o artista usou para representar as árvores e a vegetação rasteira. Pedir que eles descrevam os diversos tons de verde, de ocre, de marrom, de vermelho, usando diferentes adjetivos.

* Novas interpretações do quadro – Solicitar que os alunos, usando os materiais disponíveis (tinta, papel, recortes, tela, etc), desenhem novas “Florestas”, aproveitando alguns animais e plantas e colocando novos elementos em suas criações.

* Exposição dos trabalhos produzidos.



E)
* Atividade - Tema-: Figura Humana – Obra : Menina Sentada

* Observar com os alunos o fundo e a figura dentro da obra. O fundo sugere que o artista quis mostrar uma cena diurna ou noturna? O que sugere a figura da menina na obra? Qual o sentimento que a expressão da menina transmite?

* Pedir que os alunos descrevam os tons de azul que o artista usou para representar o céu. Há outras cores diferentes de azul no céu?

* Observar a posição da assinatura no quadro. Em que data ele foi pintado? Com que finalidade o artista assina o quadro?

* Mostrar o quadro novamente, pedir que observem a figura da menina e em seguida escrevam uma ou duas frases sobre o que viram (escrever uma delas numa faixa, que será colocada próxima à exposição da obra). Estabelecer um tempo para concluírem a atividade e apresentarem oralmente o que escreveram.



F)


* Tema: Natureza Morta – Obra: Natureza Morta





* O nome “natureza morta” é dado a uma pintura ou desenho de um grupo de objetos inanimados, tais como frutas, animais abatidos(comumente usados no preparo de pratos de culinária: peixes, aves, crustáceos em geral), objetos usados dentro de casa (vasos, bules, pratos, copos, etc.).

* Pedir que os alunos nomeiem os diferentes objetos usados por Portinari na “Natureza Morta”. Em seguida, pedir que eles digam qual é a matéria utilizada na fabricação dos objetos (a madeira da mesa; o vidro das garrafas; o tecido da toalha). Observar com os alunos que o artista consegue transmitir para o observador exatamente qual o material com que foram feitos os objetos, mas ele não usa nada além de tinta e do pincel. Como ele consegue passar esta idéia para o expectador?

* O artista usa diferentes “planos” para mostrar que os objetos não estão todos enfileirados, numa mesma linha. O que se encontra em “primeiro plano” ? E no “plano” de fundo?

* Pedir que os alunos, usando os objetos que se encontram na sala de aula, montem uma natureza-morta e em seguida a interpretem usando os materiais ao seu dispor (tintas, papel, lápis de cera, lápis de cor... 0

* Fazer com os alunos uma tabela de cores, classificando-as em “frias”e “quentes”. Discutir com eles como a cor pode ser um elemento descritivo dentro do quadro; como pode simbolizar uma emoção, a relação que elas podem ter entre os objetos do quadro.

* Exposição dos trabalhos produzidos.
* Tema: Figura Humana – Obra: Banda de Músicos

* Quantos personagens aparecem no quadro? O que sugere a cena? Que instrumentos eles estão tocando?




* Observar com os alunos que cores foram usadas. Quais as cores quentes e quais as frias? O quadro tem predominância de cores quentes ou frias? Ad cores sugerem uma transparência sobre as figuras?

* Observar com os alunos o contraste entre os rostos dos músicos e as figuras geométricas que o artista usou. Quantas figuras geométricas podem identificar? Quais são elas?

* Pedir que os alunos selecionem uma cor e as nuances desta mesma cor em sua caixa de lápis de cor. Com as tonalidades escolhidas pedir que criem desenhos a partir de figuras geométricas. Comentar com os alunos os resultados dos trabalhos criados.

* Dividir a turma em grupos e pedir que cada grupo relacione em um pedaço de papel o maior número possível de instrumentos musicais que conhecem. Determinar um tempo para a conclusão da atividade e em seguida pedir que cada grupo apresente oralmente os instrumentos que conseguiram relacionar.

* Exposição dos trabalhos produzidos pelos alunos.



H)




* Sugerir a escolha de uma ou duas obras de Portinari e solicitar que os alunos criem um diálogo entre seus personagens.

I)


* Utilizar personagens e elementos de um quadro ( figuras soltas), montar como um quebra- cabeça e depois comparar com a obra original.




Avaliação
A avaliação ocorrerá durante todo o processo, estando sujeito a reformulações, se necessário, visto a sua flexibilidade.


Duração: 4 meses


Recursos humanos envolvidos: Sala de Leitura, professores do 1º e 2º segmentos
(Língua Portuguesa)


População alvo: Alunos do 1º e 2º segmentos


Bibliografia- O Pintor de Lembranças
José Antonio Del Cañizo
Tradução de Charles Kiefer
Editora Projeto


- Crianças Famosas – Portinari
Nadine Trzmielina e Ângelo Bonito
Editora Calis


- Pesquisas na Internet, em jornais, revistas...


- PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

- Multieducação

PORTINARI




PORTINARI


1903: Nasce em Brodósqui, S. Paulo. - 1912: Colabora na pintura da Igreja de Brodósqui. - 1918: Vai para o Rio de Janeiro para estudar pintura. - 1921: É admitido no curso de pintura da Escola de Belas Artes. -1922: Expõe o 1º quadro. -1928: Ganha uma bolsa de viagem que o leva à Europa. - 1930: Casa com Maria Martinelli. - 1935: O óleo "Café" obtém a Segunda menção honrosa, em Nova Iorque. - 1936: Pinta os primeiros murais. É nomeado professor de pintura. - 1937: Inicia os murais do Ministério de Educação. - 1938: O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque compra o quadro "Morro". - 1939: Nasce seu filho, João Cândido. - 1940: Expõe nos Estados Unidos. - 1943: Candidata-se a deputado. - 1945: Conclui os murais do Ministério da Educação. Filia-se no Partido Comunista. - 1946: Expõe em Paris. - 1947: Candidata-se a senador. Expõe em Buenos Aires e Montevideo. - 1950: Visita a Itália. Participa na Bienal de Veneza. - 1952: O Governo Brasileiro convida-o para realizar os murais para a sede da ONU. - 1954: Sofre uma hemorragia, motivada pela intoxicação das tintas. - 1955: Faz ilustrações para a obra "A Selva" do escritor Ferreira de Castro. - 1956: Viaja a Israel e Itália. - 1962: Morre, vitima do envenenamento das tintas.

Obrigada pela visita.